sexta-feira, 20 de junho de 2014

PALAVRA DO PASTOR: O pênalti e a dignificação dos jogadores de futebol

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos dos Goytacazes/RJ
18 de junho de 2014


Em 1891 o árbitro de futebol usou por primeira vez o apito e marcou o primeiro pênalti, após uma campanha forte da imprensa que denunciava lesões graves e até mortes nas áreas do gol. Mais adiante marcou-se fouls isto é, faltas fora da área, que primeiramente eram reconhecidas pelo jogador faltoso pedindo desculpas ao que tinha sofrido a agressão. Mais tarde as faltas graves viraram cartão amarelo e vermelho com a respectiva computação.

Tudo isto para enfrentar a cultura da violência dos técnicos e dirigentes que para vencer mandavam bater e intimidar os jogadores do time rival. Ainda devemos recordar que quando se perde um campeonato jogadores são ameaçados e tripudiados, um jogador de Camarões Joseph Bell, goleiro, teve a sua casa queimada, um colombiano Andrés Escobar foi crivado a balas por ter feito um gol em contra, e o goleiro Barbosa de 1950 confessa que durante 43 anos teve que suportar a amargura de ser considerado o único culpado da derrota. 

Além destas mazelas que podem levar a um atleta retirar-se antes do tempo ou ficar encostado, é importante refletir sobre a sua condição laboral que se assemelha muitas vezes como afirmava Pelé antes da lei do passe livre a uma escravidão. Na França somente aos 34 anos o jogador ficava livre para procurar outros times. Maradona, Stoichkov, Bebeto, Landrup, Zamorano e Hugo Sanchez, impulsionaram em 1994 um movimento mundial de sindicalização dos jogadores para lhes serem respeitados os direitos trabalhistas como em qualquer profissão.

Um jogador inglês se comparava aos frangos, pois tinham a liberdade cerceada, obrigados a movimentos repetitivos e recebendo constantemente injeções e hormônios para aliviar a dor e continuar jogando, como aconteceu com nosso querido Garrincha. Os jogadores de futebol a diferença de outros artistas ignoram muitas vezes o arrecadado e os negócios que se fazem as suas custas, envolvendo lavagem de dinheiro e a participação das máfias do futebol.

Muitas vezes esquecemos que estamos contaminados pela mentalidade do sucesso e ganhar de qualquer jeito passando por cima de pessoas humanas, que tem direito a ser tratadas como trabalhadores dignos e gente, superando nossa tendência primária de os idealizarmos e exigirmos deles como ídolos um sacrifício e um rendimento fora dos condicionantes e das limitações do ser humano.

Que reconheçamos neles como cristãos que somos o seu contributo para o lazer, para nossa alegria e nunca nos esqueçamos que suas lutas por reconhecimento dos seus direitos e a proteção das suas vidas são nossas também. Deus seja louvado!

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